
Mídia eletrônica profissional


Telejornalismo no Brasil | Anos 1960
Anos 1960 — A fase cinematográfica
Nos anos 1960, muitos profissionais do cinema começaram a trabalhar na televisão, melhorando a qualidade da imagem, mas o texto continuava inexpressivo.
A chegada do videoteipe deu grande impulso ao desenvolvimento da televisão e, em especial, do telejornalismo. Os programas tiveram maior movimentação na produção de matérias externas e reportagens, tanto dentro quanto fora do estúdio, tornando os telejornais menos lidos, mais imediatos e com maior participação e interferência nos fatos. Para discutir os acontecimentos, apareceram vários programas de debates, nos quais as questões podiam ser esclarecidas com a presença dos responsáveis. A tecnologia dos satélites intensificou a troca de informações entre regiões distantes. A partir daí, o mundo começou a ficar menor e mais parecido com o que Marshall McLuhan (1972) chamou de “aldeia global” em seu livro Galáxia de Gutenberg.
Até o início da década de 1960, não existiam âncoras no universo da televisão, apenas apresentadores que se limitavam a ler as notícias.
O âncora, ou pivô, é o apresentador de um telejornal que, além de ler a notícia, também a comenta. Diz-se que o termo “âncora” (do inglês anchorman), nesse sentido, teria sido empregado pela primeira vez em 1952, para se referir ao trabalho de Walter Cronkite durante a convenção pré-eleitoral do Partido Democrata nos Estados Unidos.
É importante ressaltar que o âncora não é aquele que apenas faz uma “gracinha” ou brincadeira com outro colega durante um telejornal, mas que realmente dá sua opinião, elogia, manifesta indignação com o noticiário ou se posiciona diante de fatos que merecem mais do que um relato básico.
Basicamente, [o âncora] é um jornalista com a paciência e a curiosidade de ler, com a maior isenção possível, os jornais impresso do dia; esse jornalista deve ter uma visão de mundo, dispor de uma cultura humanística e histórica que lhe permita descobrir, mesmo em uma pequena anedota, a sua importância trágica ou a sua terrível comicidade; alguém em condições de estar permanentemente chocado pela realidade, mas com o poder de se apresentar diante dos telespectadores sem que olhos e músculos reflitam qualquer tipo de comoção indesejável; alguém que acompanha, na redação, o nascimento e o desenvolvimento da notícia; uma pessoa capaz de sofrer, durante dez minutos, para escrever um bom texto de duas linhas e, ao mesmo tempo, improvisar com naturalidade e conhecimento de causa uma locução de dois minutos sobre algum acontecimento de última hora; alguém com ar de serenidade e respeito pelos outros; traços corretos, boa voz, um ritmo dialogal de leitura e — exigência suprema! — um ar inteligente. (Vieira, 1991, p. 194 apud Squirra, 1993, p. 119)
Em 1960, a TV Cultura foi fundada pelos Diários Associados e reinaugurada em 1969 pela Fundação Padre Anchieta. Sediada na capital paulista, produz e transmite programas de televisão educativos para suas afiliadas em diversas regiões do Brasil.
Em 1962, a TV Excelsior de São Paulo, canal 9, mudou radicalmente sua programação, introduzindo ideias de modernidade e dinamismo que a marcaram na história da televisão brasileira, como a industrialização da produção, a criação de rede por meio do videoteipe, entre outras. O telejornalismo muito se beneficiou dessas ideias. O noticioso Jornal de Vanguarda, por exemplo, criado pelo jornalista Fernando Barbosa Lima, trazia vários locutores e comentaristas utilizando uma linguagem leve e coloquial. O telejornal tinha como objetivo formar a opinião pública. Como explica Regina Mota, doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a figura do repórter foi introduzida pela primeira vez nesse telejornal, modificando a relação do público com a notícia, que passou a ter uma pessoa que angulasse os fatos (2010, p. 142).
Em 1966, o programa foi para a TV Globo, e, nos anos seguintes, foi apresentado pela TV Continental e pela TV Rio.
No final de 1964, o Repórter Esso saiu da TV Tupi e passou a ser exibido pela TV Record de São Paulo, na qual ficou no ar por mais de onze anos. Em 28 de abril de 1965, um incêndio destruiu o estúdio da TV Cultura, localizado no 15o andar do Edifício Guilherme Guinle. Então, Assis Chateaubriand decidiu vender a emissora para o Governo do Estado de São Paulo.
No mesmo ano, nasceu a TV Globo, contando com um jornal influente, uma emissora de rádio popular, além do apoio financeiro e técnico do grupo norte-americano Time-Life. Mais tarde, o grupo estrangeiro foi afastado, mas seu apoio permitiu que a TV Globo se tornasse, rapidamente, uma empresa rica e bem-estruturada.
O primeiro telejornal da emissora foi o Tele Globo, dirigido por Mauro Salles, que estreou no mesmo dia que a emissora. Em 1966, com a chegada de Armando Nogueira, começou a ser montada a Central Globo de Jornalismo.

Logotipo do Tele Globo, primeiro telejornal da TV Globo.
No final da década de 1960 e começo da década de 1970, a emissora copiou o padrão norte-americano de telejornalismo, implantando o primeiro telejornal da Rede Globo, o Jornal Nacional. O novo telejornal tinha a preocupação de ser diferente de seu concorrente, o Repórter Esso.
Em 1969, a emissora consolidou-se como rede, iniciando a transmissão simultânea do Jornal Nacional: ele era gerado no Rio de Janeiro e retransmitido a todas as emissoras da rede por meio da Embratel. O JN tornou-se, em alguns anos, o mais importante e mais famoso noticiário brasileiro.
Quando o Jornal Nacional foi ao ar pela primeira vez, em 1969, eram grandes as dificuldades técnicas que os profissionais da TV Globo enfrentavam no dia a dia. Na época, a televisão brasileira já dispunha do videoteipe (VT), mas essa tecnologia era utilizada apenas nos programas de dramaturgia e entretenimento. Na produção das reportagens, o jornalismo usava suporte técnico do cinema, ou seja, o filme de 16 mm, uma vez que ainda não existia o videoteipe portátil. Os equipamentos de gravação eram muito pesados, não permitindo a agilidade necessária à reportagem de rua. (Zahar, 2004, p. 29)

Primeiro logotipo do Jornal Nacional, criado pelo desenhista e cartunista Borjalo.
Em 1967, foi inaugurada mais uma emissora de televisão, a Bandeirantes (hoje conhecida como Band), associada à Rádio Bandeirantes de São Paulo. Entre diversas atrações informativas, a emissora criou o noticiário Titulares da Notícia, correspondente do tradicional programa da Rádio Bandeirantes.
Anos 1970 — Adoção e cópia do modelo norte-americano
Ficou clara a influência do telejornalismo norte-americano no Brasil quando surgiram os mitos da imparcialidade e da objetividade; a própria Rede Globo criou seu manual de telejornalismo com base no livro Television News, de Irving Fang, de 1972. Pioneira na importação do modelo norte-americano, o telejornalismo da Rede Globo eliminou o improviso, deu ritmo aos telejornais e determinou uma duração fixa para eles (Rezende, 2000).
Essa década foi muito significativa, por conta do momento político vivido pelo Brasil, por meio da censura imposta aos jornalistas. A televisão, por ser uma concessão pública, foi tratada pelos militares como um instrumento de alienação da população.
No início da década, a TV Gazeta de São Paulo foi inaugurada pela Fundação Cásper Líbero, destacando-se pelos programas jornalísticos, que envolviam debates, esportes e entrevistas.
Em 1972, a televisão colorida chegou ao Brasil, e, em 31 de março, foi realizada a primeira transmissão em cores da TV brasileira: a Festa da Uva de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.
Três tecnologias importantes foram incorporadas nessa época: o chromakey, o filme colorido e o teleprompter. Também surgiram os primeiros correspondentes internacionais: Sandra Passarinho e Hélio Costa, da TV Globo.
A Rede Tupi dominou o mercado nos vinte primeiros anos, mas a TV Excelsior chegou a ser uma rede poderosa durante o governo Goulart (Mattos, 2001, p. 93). A Excelsior perdeu sua licença em 1970, após um período de decadência que coincidiu com a ascensão da TV Globo.
Em 31 de dezembro de 1970, o Repórter Esso foi ao ar pela última vez, sendo derrubado pelo Jornal Nacional, que passou a ser a grande vedete do telejornalismo brasileiro.
Em 1973, a TV Globo lançou o Fantástico — O Show da Vida, revista de entretenimento e de informação.
Em 1975, a Bandeirantes começou a se tornar uma rede nacional de televisão com a compra da TV Vila Rica, que se transformou na TV Bandeirantes MG. No dia 7 de julho de 1977, a TV Bandeirantes chegou ao Rio de Janeiro, no canal 7.
Enquanto isso, tentando sair da crise com o fim do Repórter Esso, a TV Tupi lançou a Rede Nacional de Notícias, que apresentava um cenário diferente: os locutores apareciam em primeiro plano, tendo como fundo uma sala de redação — talvez tenham sido os primórdios dos modernos cenários atuais.
Houve duas experiências de sucesso nos anos 1970: A Hora da Notícia, exibido pela TV Cultura de São Paulo, com formato que priorizava o depoimento popular a respeito dos problemas da comunidade, e Os Titulares da Notícia, da TV Bandeirantes, que incluía depoimentos populares e que também passou a valorizar mais o trabalho do repórter, que, independentemente da aparência e da voz, passou a apresentar as notícias.
Nos anos 1970, a câmera de 16 mm foi substituída pelas câmeras portáteis, dando mais mobilidade ao telejornalismo.
A Rede Globo implantou seu padrão de qualidade, sob o comando de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Ele era responsável por todas as áreas de programação da emissora, incluindo o jornalismo, que esteve sob sua supervisão até a entrada de Evandro Carlos de Andrade na direção da Central Globo de Jornalismo (CGJ), em 1995.
A partir de 1977, houve uma mudança tecnológica muito grande para o telejornalista: as emissoras saíram da produção em filme para entrar na era do videocassete U-matic, que veio agilizar as gravações externas — principalmente as reportagens —, em que eram utilizadas câmeras com filmes 16 mm. O U-matic trouxe consigo o desenvolvimento moderno da edição eletrônica, o que deu muito mais velocidade à operação do telejornalismo, que, até então, perdia muito tempo com a revelação do filme.
Animada com o sucesso do JN, a Globo criou outros telejornais: um na hora do almoço, o Hoje, e outro no fim da noite, que recebeu vários títulos: Amanhã, Painel, Jornal da Globo e Segunda Edição do Jornal Nacional.
Anos depois, surgiu um jornal em um horário pouco convencional, no início da manhã, o Bom Dia São Paulo. Foi o primeiro jornal matutino, que seria a “semente” para o atual Bom Dia Brasil. Também foi o primeiro a utilizar o equipamento de unidade portátil de jornalismo (UPJ), com repórteres entrando no ar ao vivo, de vários pontos da cidade. Depois, a experiência foi implantada em todas as emissoras afiliadas da Globo, com características regionalizadas.