
Mídia eletrônica profissional


Telejornalismo no Brasil | Anos 1950
Ricardo Pizzotti
Aspectos históricos
Anos 1950 — O rádio com imagens
O telejornalismo no Brasil começou em setembro de 1950, com a inauguração da PRF-3 TV Tupi-Difusora de São Paulo, a primeira emissora de televisão da América do Sul e a quarta do mundo.
Durante o espetáculo inaugural, Show na Taba, foram apresentadas diversas entrevistas com autoridades, artistas e técnicos, além de uma reportagem mostrando as instalações da emissora e uma crônica apresentada pelo jornalista Maurício Loureiro Gama.
Dois dias depois, foi ao ar Imagens do Dia, o primeiro telejornal diário da TV Tupi de São Paulo e o primeiro da televisão brasileira. Mais tarde, em 20 de janeiro de 1951, iniciaram-se as transmissões da TV Tupi Rio de Janeiro. Na época, o telejornalismo das duas emissoras era muito rudimentar, com poucas imagens, pois as notícias vinham das rádios e dos jornais da empresa Diários e Emissoras Associados, à qual as TVs pertenciam.
A inauguração da TV garantia ao Brasil a precedência sobre os demais
países da América Latina no funcionamento de uma emissora destinada
a difundir imagens em movimento: informação, entretenimento e anúncios
comerciais. (Marques de Melo, 2005, p. 131)
O programa Imagens do Dia durou até 1952, quando foi substituído pelo Telenotícias Panair, no qual é possível notar a ampla utilização do merchandising — atividade de marketing incorporada ao conteúdo do programa, visando promover marcas, serviços ou produtos, nesse caso usando o nome do jornal.

Em 1952, surgiu a Rádio-Televisão Paulista, uma pequena emissora com sede em um apartamento e estúdios montados na garagem. A redação de seu telejornal diário, O que vai pelo mundo, ficava na sala. Em 1955, a TV Paulista, como era conhecida, instalou-se num local maior — na rua das Palmeiras —, onde havia dois estúdios. Seu primeiro destaque no telejornalismo foi com Silveira Sampaio, que conseguia ser intérprete e tradutor, o intermediário entre o fato e o público.
Ainda na fase da utilização do merchandising, foi criado o primeiro telejornal de sucesso da televisão brasileira, o Repórter Esso. Estreou na TV Tupi São Paulo em 17 de junho de 1953, e em 1954, na Tupi Rio. Considerado o mais importante telejornal da década de 1950, transmitia notícias nacionais e internacionais e não se baseava mais em recortes de jornais, como seus antecessores. O programa tinha o mesmo formato do norte-americano Your Esso Reporter e seu conteúdo era de responsabilidade de uma agência de publicidade, que o entregava pronto. O Repórter Esso permaneceu no ar até o último dia de 1970, após ter sido líder de audiência durante muitos anos.
Vinheta do Reporter Esso
Em termos visuais, “todos os telejornais eram parecidos: uma cortina de fundo, uma mesa e uma cartela com o nome do patrocinador”. (Lima apud Rezende, 2000, p. 106)
O Repórter Esso sintetizava as duas características mais evidentes do início da televisão brasileira: a herança radiofônica e a subordinação dos programas aos interesses dos patrocinadores. (Priolli, 1985, p. 23 apud Rezende, 2000, p. 106)
Entre 1951 e 1980, foi ao ar na TV Tupi o Edição Extra, noticioso que abria as transmissões da emissora ao meio-dia. Era produzido por Maurício Loureiro Gama e apresentado por José Carlos de Morais (o Tico-Tico), César Montes Claros, Antonio Leite e Meire Nogueira, além do próprio Maurício. Tornou-se um marco do telejornalismo não só pela notícia ao vivo que trazia, mas por ter se tornado uma grande tribuna popular.
Em 1953, a TV Paulista colocou no ar o Mappin Movietone, com as atrizes Cacilda Lanuza e Branca Ribeiro, as primeiras apresentadoras de telejornal. No mesmo ano, a emissora lançou A Cidade Reclama, programa semanal de prestação de serviços com denúncias sobre problemas da cidade, e Momento Político, apresentado por Roberto Corte Real, a exemplo de programas políticos que já haviam surgido na TV Tupi.
A TV Paulista ficou no ar até 1966, quando foi comprada pelo Sistema Globo de Rádio e Televisão. Na época, os veículos davam pouca importância ao jornalismo, priorizando os shows e teleteatros. Os telejornais eram transmitidos ao vivo, com os apresentadores lendo notas peladas, e quase não havia reportagens externas.
A partir de 1953, as câmeras começaram a sair dos estúdios. As externas eram raras e feitas com câmeras de cinema de 16 mm, o que encarecia as reportagens e atrasava sua colocação no ar, uma vez que o filme precisava ser revelado e montado.
Em 27 de setembro de 1953, estreou a TV Record, no canal 7, a terceira emissora de televisão da capital paulista. Foi fundada por Paulo Machado de Carvalho, proprietário das rádios Record e Pan-americana.
Seu primeiro telejornal diário foi o Nossa Cidade. No entanto, a Record tentou concorrer diretamente com o Repórter Esso, da Tupi, com o programa BCR, mas não conseguiu a mesma audiência. No ano seguinte, a emissora criou, para ir ao ar diariamente às 21h, o telejornal Record em Notícias. Às 23h, passou a ser apresentado o telejornal Última Edição. Assim como nos demais canais, no canal 7 as notícias também eram pouco ilustradas.
No Rio de Janeiro, em 1955, o monopólio da TV Tupi como única emissora da cidade e do estado foi quebrado com a inauguração da TV Rio, canal 13. A emissora passou a integrar, com a TV Record, as Emissoras Unidas, criando entre as duas emissoras um elo que permitiria, futuramente, a troca de produções entre elas.
Em 1959, as Organizações Victor Costa, proprietárias da TV Paulista, canal 5 de São Paulo (mais tarde adquirida pela Rede Globo), receberam a concessão para um segundo canal na cidade, a TV Excelsior, canal 9. A emissora entrou no ar em 9 de julho de 1960, com uma programação centrada em jornalismo, séries e filmes estrangeiros.
Posteriormente, comprou a concessão do canal 2 no Rio de Janeiro, dando início ao conceito de rede de televisão no Brasil. À Excelsior do Rio de Janeiro vieram se juntar outras, como a TV Vila Rica, em Belo Horizonte, a TV Gaúcha, em Porto Alegre, e a TV Nacional, em Brasília.
Naquela época as estações de televisão funcionavam de maneira autônoma em cada estado do país. E, até que se adotasse o conceito de grade de programação, o dia seguinte era sempre um novo desafio. (Filho, 2001, pp. 16-7)
No final da década de 1950, os repórteres de televisão já viajavam por todo o país, realizando reportagens especiais in loco. Como não havia satélite para transmissão direta, o telejornalista ia atrás do fato utilizando equipamentos da emissora. As matérias continuavam sendo filmadas com equipamentos de cinema, pois ainda não existiam câmeras compactas de TV, nem se utilizava videoteipe (VT).
Vinhetas da TV Excelsior