
Mídia eletrônica profissional


Luz em telenovelas
Willians Cerozzi Balan Prof. Ms. - UNESP - FAAC – Bauru
Diferentemente de telejornalismo, a função da telenovela é entreter, criar ilusões e fantasias. Logo a iluminação se mostra como um processo técnico de viabilizar um resultado artístico. Não que sejam desprezadas as regras básicas da iluminação de televisão. O que se verifica é um aprimoramento destas mesmas regras. A iluminação básica com luz chave, atenuante e contra-luz são aplicadas com mais detalhes estéticos. Dependendo do que pede o roteiro, dentro do contexto de uma história ou pelo menos o que se espera transmitir ao telespectador, a luz é trabalhada para criar cenas que despertem no receptor as sensações emocionais das mais diversas, enquadrando-o na ilusão de, por alguma forma, estar vivenciando aquele momento de ilusão.
A luz chave é utilizada praticamente em todas as cenas como ponto principal de iluminação do personagem. Ela só é dispensada nos momentos onde o personagem interpreta momentos de suspense ou tensão cujo aparecimento do ator é indireto que tem por objetivo fazer com que o telespectador tenha dúvidas sobre quem está na cena.
A luz atenuante é bastante utilizada para generalização da luz como forma complementar para objetos de cena ou cenários. A contra-luz é aplicada preferencialmente para criar a ilusão de uma luz que vem de outro ambiente cuja fonte de luz invade a cena principal, porém com a mesma função: destacar os contornos do personagem, dando-lhe volume e profundidade. Os tipos de refletores são os mesmos utilizados em produção de filmes ou jornalismo porém com visual final voltado para o artístico.
A estética e a técnica na ambientação
O roteiro: o produto
Fonte de qualquer produção, o roteiro é a ferramenta necessária para um produto final de qualidade. É nele que a ideia do autor se concretiza de forma a orientar todos os envolvidos em uma produção, sejam atores ou técnicos, o que se espera daquele produto.
É no roteiro que se registra todas as informações necessárias para que as equipes efetuem o planejamento de trabalho de forma organizada e produtiva.
O "clima" de uma cena é descrita antes, durante e após a fala de um personagem. Por esta descrição o cenógrafo pode desenvolver o ambiente onde o personagem interpretará sua vida dentro da novela. Se o perfil do personagem pertence a um nível sócio-cultural elevado, seu escritório terá como objetos de cena livros, discos, filmes; os móveis serão de nível compatível ao personagem; as paredes terão decoração de gosto apurado, o figurino será dentro do perfil do personagem. Assim também o planejamento da iluminação dos ambientes seguirá os traçados que combinem com aquele estilo pré-determinado. Provavelmente focos de luz específicos como spot ou abajur serão dispostos em cena.
Caso o personagem pertença à uma classe sócio-econômica menos favorecida, a sala de sua casa terá decoração simplificada. Os objetos de cena deverão seguir também a realidade do personagem. Logo, em cenário da casa deste personagem não poderá aparecer objetos finos de alto custo, seria incoerente. Dentro desta mesma linha entra o figurino. A iluminação neste caso deve ser a simples, considerando apenas um ponto de luz como fonte geradora o que obriga o uso de luz chave mais para suave que para dura com o refletor partindo da posição que representaria a luz do teto.
Uma cena que não corresponda à realidade da memória visual do telespectador poder parecer a ele como uma trama falsa. O telespectador não sabe dizer porquê, mas não sente-se convencido da realidade mostrada pelos personagens. Ele nem mesmo pensa em avaliar mas subjetivamente o programa não agrada.
É fácil identificar. Como exemplo imagine uma cena romântica que se desenrole em uma mata ao lado de uma fogueira. Se esta cena for apresentada com os personagens iluminados por vários refletores em vários ângulos ela não corresponderá à realidade. Uma cena ao lado de uma fogueira deve obrigatoriamente ter seus personagens iluminados por uma luz amarelo-avermelhada cujos feixes luminosos venham da direção da fogueira e não da direção contrária à ela e muito menos de vários pontos diferentes.
Num segundo exemplo, imagine um ator caminhando pelo cenário próximo à parede de uma sala. Com o ator em movimento necessita-se vários refletores para iluminar todos os pontos da marcação de cena. Suponhamos cinco refletores. Cinco sombras do ator serão observadas na parede da sala. No entanto o telespectador está acostumado a ver apenas uma sombra na parede de sua sala quando ele caminha em casa. É a sombra gerada pela única fonte de luz da sala: o lustre no teto. É verdade que o telespectador nunca dá atenção à sombra que vê na parede mas subjetivamente aquela imagem fica registrada em sua memória. O telespectador não avalia que a cena está falsa em função das sombras que ele não está acostumado a ver no seu dia a dia, mas sim que o ator interpreta mal ou que a novela não é boa ou por outras razões que ele mesmo não identifica.
O perfil de cada personagem deve ser analisado sob vários aspectos para somente então planejar cada cenário e sua respectiva iluminação de forma a não contrariar o repertório do telespectador, o elemento mais importante de todo processo de produção, pois é a ele que pretendemos entregar nosso produto.
Portanto a televisão necessita maior realismo em suas cenas. Principalmente o realismo proporcionado pela simulação de um ambiente real em seus "takes" para gerar no telespectador a sensação da realidade.
Um dos principais elementos para proporcionar ao telespectador a sensação de realidade em uma cena é buscar no repertório dele as informações armazenadas na memória visual do ambiente em que vive.
Com estas colocações quero afirmar a necessidade do roteiro ser analisado não apenas no aspecto de providências de produção ou de interpretação, mas como a ferramenta que deve ser digerida cena por cena, diálogo por diálogo e em que situações as ações acontecem. Desta forma o planejamento permitirá uma iluminação sem dúvida a mais convicente e a mais ilusória de tal forma a simularmos uma realidade para nosso componente de imagem mais importante: o telespectador.